terça-feira, 9 de novembro de 2010

Quitéria, Passa pra dentro cuidar de seus irmãos.

As Meras ou Parcas, entidades da mitologia greco-romana responsáveis pelo Destino, foram caprichosas com Maria Quitéria: teceram-lhe a vida em duas metades bem distintas. A primeira, clara e solar, cobre o período da infância e adolescência; a outra, obscura e trágica, começa no seu retorno da Corte, após a condecoração que lhe concede o Imperador Pedro I, por sua participação e bravura nas lutas da Independência da Bahia, que consolidaram a Independência do Brasil.
Infância mais ou menos feliz, marcada pelas correrias, caçadas de bodoque aos pássaros, cavalgadas em animais em pelo, no Sítio do Licorizeiro, perto de São José das Itapororocas, então pertencente à Comarca de Nossa Senhora do Rosário do Porto de Cachoeira, e em 1832 desmembrada para Feira de Santana.
Maria Quitéria nasce, provavelmente, em 1792. A casa era pequena, mas a planície larga convidava ao movimento do corpo instigado pelas maquinações do imaginário. Uma das três Parcas decidiu enredar-lhe  logo os fios da vida. A morte da mãe, que se chamava Quitéria Maria, em 1803, vem tolher a vida despreocupada e folgazã da menina, forçando-a a cuidar dos dois irmãos menores.
O pai, Gonçalo Alves de Almeida, leva apenas cinco meses antes de convolar núpcias com Eugênia Maria dos Santos, que não lhe dá filhos e falece pouco depois. Com esta primeira madrasta Maria Quitéria não teve tempo de gerar atritos. Mas o terceiro casamento de Gonçalo, com Maria Rosa de Brito, cria tensões e hostilidades, porque a nova madrasta pretende opor um freio à vida independente da menina endiabrada e, ao mesmo tempo, acentuar-lhe a noção dos deveres domésticos. O pai forma segunda prole, mais numerosa, e a uma de suas meio-irmãs, Teresa Maria, a futura heroína do 2 de Julho baiano haverá de afeiçoar-se.
O lavrador Gonçalo prospera; não é de todo rude e destrambelhado. Muda-se para uma fazenda a Serra da Agulha, mais ampla, com uma casa-grande e terras mais produtivas. Cultiva algodão, cria gado. Mas a vida continua isolada, sua rotina só vem a ser quebrada pela passagem de viajantes ocasionais e  conversas de tropeiros, a feira semanal, os passeios pelos campos, as missas. Admiradores masculinos, Maria tem muitos, porém não vê futuro nos compromissos insinuados.

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